segunda-feira, 21 de março de 2011

AQUECENDO OS TAMBORES:
NOVENTA ANOS DE POLTRONA...

Dia 1° de abril o Grupo Improvise realizará uma apresentação gratuita no Instituto Sedes Sapientiae em comemoração aos 90 anos de nascimento do Psicodrama.
Como aquecimento para essa grande comemoração, compartilho as palavras de Moreno sobre a noite de 1° de abril de 1921.
Em breve divulgarei o convite oficial.
Ah... O Grupo Improvise trabalha com o método de Teatro de Reprise: os ego-atores encenam as histórias/cenas contadas pelo narrador/público.  O público, de forma absolutamente espontânea,  entra com a dramaturgia. Ok?!!

Sessão I - O Berço do Psicodrama

O caminho mais curto para chegar à essência de uma ideia é explorar como foi concebida e anunciada pela primeira vez. As potencialidades terapêuticas quase ilimitadas do psicodrama talvez justifiquem que retrocedamos até ao seu berço. O psicodrama nasceu no dia das mentiras, 1° de abril de 1921, entre as 7 e às 10 horas da noite.
O local de nascimento da primeira sessão psicodramática foi a Komoedien Haus, um teatro dramático de Viena. Eu não possuía um elenco de atores nem uma peça. Apresentei-me nessa noite sozinho, sem preparação alguma, perante uma plateia de mais de mil pessoas. Quando a cortina foi levantada, o palco estava vazio, com exceção de uma poltrona de pelúcia vermelha, de espaldar alto e armação em talha dourada, como o trono de um rei. No assento da poltrona havia uma cora dourada. O público compunha-se, além de uma maioria de curiosos, de representantes de estados europeus e não-europeus, de organizações religiosas, políticas e culturais. Quando me lembro de tudo isso, fico espantado com a minha própria audácia. Foi uma tentativa de tratar e curar o público de uma doença, uma síndrome cultural patológica de que os participantes compartilhavam. A Viena do pós-guerra fervia em revolta. Não tinha governo estável, nem imperador, nem rei, nenhum líder. Tal como a Alemanha, a Rússia, os Estados Unidos e, na verdade, todo o mundo povoado, também a Áustria estava inquieta, em busca de uma nova alma.


Quem conta a próxima cena?
 
Mas, falando em termos psicodramáticos, eu tinha um elenco e tinha uma peça. O público era o meu elenco, as pessoas que enchiam o teatro eram como outros tantos dramaturgos inconscientes. A peça era o enredo em que haviam sidos jogados pelos acontecimentos históricos e em que cada um desempenhava um papel real. Como diríamos hoje, o meu intento era conseguir o sociograma em statu nascendi e analisar a produção. Se conseguisse converter os espectadores em atores, os atores do seu próprio drama coletivo, isto é, dos dramáticos conflitos sociais que estavam realmente envolvidos, então a minha audácia estaria recompensada e a sessão poderia começar. O tema natural do enredo foi a busca de uma nova ordem de coisas, testar cada um dos que, no público, aspirassem à liderança e, talvez, encontrar um salvador. Cada um segundo o seu papel, políticos, ministros, escritores, militares, médicos e advogados, todos foram por mim convidados a subir no palco, sentar-se no trono e atuar como um rei, sem preparação prévia e diante de um público desprevenido. O público era o júri. Mas deve ter sido, na realidade, uma prova muito difícil; ninguém passou nela. Quando o espetáculo terminou, verificou-se que ninguém se havia considerado digno de tornar-se rei e o mundo continuou sem líderes. A imprensa vienense, na manhã seguinte, mostrou-se muito perturbada com o incidente. Perdi muitos amigos mas registrei, calmamente: “Ninguém é profeta em sua própria terra”, e continuei com minhas sessões perante assistências de países europeus e nos Estados Unidos.
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 ( MORENO, 1946)