quinta-feira, 25 de novembro de 2010

"MUITAS HISTÓRIAS IMPORTAM"
Por ocasião dos ensaios de uma intervenção que o Grupo Improvise realizou no Parque da Luz, cujo tema foi “Convivência com a diversidade no Dia da Consciência Negra”, uma das integrantes do grupo, Luciana, encaminhou o link do depoimento de Chimamanda Adichie, nigeriana contadora de histórias, com título “O perigo de uma única história”.
O combustível para o Grupo Improvise realizar seu trabalho de teatro de reprise são cenas/histórias contadas pelo público e que são encenadas de improviso pelos egos-atores (atores com olhar e treino em Psicodrama).  O depoimento de Adichie encaixou-se como uma luva para nosso trabalho. Destaco o trecho em que ela fala: “Histórias importam. Muitas histórias importam. Histórias têm sido usadas pra expropriar e tornas maligno. Mas histórias podem também ser usadas para capacitar e humanizar.”.  Na Praça da Luz demos voz às pessoas que estavam lá, que pediram pra ver suas emoções, suas histórias representadas, e pudemos todos comungar, público e grupo, o sentimento de potência por ter Voz.
O depoimento de Adichie ainda ressoa em mim e me deixa feliz por pertencer a um grupo como o Improvise. Mas além da felicidade sinto inquietação, pois o depoimento me faz questionar sobre meu papel de artista fora do Improvise e o papel da arte hoje.
Adichie diz: “há uma palavra na tribo Igbo, ‘nkali’ substantivo que se traduz livremente como ‘ser maior do que o outro’. Como nossos mundos econômicos e políticos, histórias também são definidas pelo princípio do ‘nkali’. Como são contadas, quem as conta, quando e quantas histórias são contadas, tudo realmente depende do poder. Poder é a habilidade de não só contar a história de outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa”.
Como, através da arte, contar uma história que instigue à reflexão e multiplique suas possibilidades de leitura? Como, apesar de ter o poder/habilidade de contar histórias, não se deixar envolver pelo princípio do ‘nkali’?
Pergunto ainda: e o processo de criação da obra de arte? A ‘concretização’ da obra, no caso do teatro, se da na comunhão espetáculo/ator-público. Mas para chegarmos neste ponto há um longo caminho a percorrer, em que estamos inseridos numa rede complexa de relações que envolvem a produção, a captação de recursos, a divulgação, a interrelação dos artistas criadores entre outros aspectos. Como escapar do princípio do ‘nkali’ durante o processo de criação da obra de arte? Como não empobrecer as ‘histórias’ que envolvem a realização dessa obra em nome do resultado, da ‘história’ que se pretende comungar com o público?
Trazendo o que aprendi sobre Psicodrama nos anos de convivência com Rosane Rodrigues e o Grupo Improvive, para situações complexas não há respostas simplistas. O Psicodrama propõe multiplicar, ampliar possibilidades de questionamentos, de respostas, de ações conjuntas.
Trazendo o que ouvi de Adichie, uma "única história cria estereótipos. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem uma história torna-se a única história (...). A consequência de uma única história é essa: ela rouba das pessoas sua dignidade. Faz o reconhecimento de nossa humanidade compartilhada difícil.”
Sigo em frente com questionamentos que abrem para tantos outros questionamentos.   
Para ver o depoimento completo de Chimamanda Adichie acesse: 
http://youtu.be/ZUtLR1ZWtEY
Para saber mais sobre o Grupo Improvise acesse: http://www.grupoimprovise.com.br/

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